Pesquisar

A ILHA DOS AMORES – I

Etiqueta

POESIA

Natal é … quando nasce uma vida a amanhecer – Ary do Santos

Só Ary, por favor. Só os poemas. Só as letras das canções, e logo se vê a alma do poeta. Agarrada a coisas pequenas (música de terceira), exactamente por ser grande; por querer dar, por querer ajudar, por querer ser irmão de quem sofre.

Quando um Homem quiser – Ary dos Santos

Tu que dormes à noite na calçada do relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitros de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

.

Obrigada a

Por Outras Palavras…

A POESIA

Amar


L’Ange Bleu
Chagall

La Mariee by Marc Chagall

La Mariee by Marc Chagall

.

.

AMAR

O segredo é Amar… Amar a Vida
Com tudo o que há de bom e mau em nós…
Amar a hora breve e apetecida,
Ouvir todos os sons em cada voz
E ver todos os céus em cada olhar…

Amar por mil razões e sem razão…
Amar, só por amar,
Com os nervos, o sangue, o coração…
Viver em cada instante a eternidade
E ver, na própria sombra, claridade.

O segredo é amar mas amar com prazer,
Sem limites, sem linha de horizonte…
Amar a Vida, a Morte, o Amor!
Beber em cada fonte,
Florir em cada flor,
Nascer em cada ninho,
Sorver a terra inteira como um vinho…

Amar o ramo em flor que há-de nascer
De cada obscura e tímida raiz…
Amar em cada pedra, em cada ser,
S. Francisco de Assis…
Amar o tronco velho, a folha verde,
Amar cada alegria, cada mágoa,
Pois um beijo de amor jamais se perde
E cedo refloresce em pão, em água!

Fernanda de Castro


Trinta e Nove Poemas / Líricas Portuguesas. 2.ª Série
(edição de Cabral do Nascimento)

Janelas para o Futuro – na Noite…

Mosteiro da Batalha

É na pesada e escura terra que brotam as sementes.

É na negra Noite, em todo o corpo de Nut ( Nout, Noite) que nascem as estrelas….

EXOTERICA-MENTE

 

Há qualquer coisa de esfinge em tudo isto…

Se espera com angústia que dói

e se finge a sobrevivência temporal

desta encarnação

jogando a roleta das personificações elementares

pois tarda

o apóstolo da luminescência,

aquele que é também o portador

das divinas vibrações,

o oculto

o encoberto

o envolvido

o silencioso

o secreto.

Só os destruidores-de-barreiras saberão

a hora cósmica da sua chegada;

eles estarão à espera, protegidos

de força psíquica, a única que suporta a

irradiação do sagrado.

Virá carregado de Ambrósia e sei

que muito poucos dela comerão.

Após o banquete não regressará só.

 

Ângelo Rodrigues

 

 

Despeço-me do Velho Ano…

 

 

Com uma referência muito especial e grata ao Paulo Cunha Porto, do Afinidades Efectivas, que me tem honrado com múltiplas referências, qual delas a mais deliciosa e atenta.

Com agradecimentos babadinhos, também pelas referências e diálogos, (com destaque para Chagall, Artaud* e Klee – um dos meus favoritos), de José Adelino Maltez, no (ler!) Sobre o tempo que passa, e as da Isabel no A Room of One’s Own (e suas palavras de ouro), e as do Claudio Tellez no C.T. Relações Internacionais, Cultura e Atualidades, outro tesouro no meu horizonte. O mesmo agradecimento para as do Mário, da Voz Portalegrense, e claro está, as do João Marchante no Eternas Saudades do Futuro.

Bem hajam os novos amigos e amigas! Bem hajam algumas fascinantes pessoas, cujo pensamento profundo tive a honra de poder ler e o luxo de poder contactar os autores, e a possibilidade de ter trocado ou – o mais importante – vir ainda a trocar impressões.

Qual projecto poderia ser melhor… Xantipa, X.,Isabel, Ana Paula, que um solstício da amizade?

Um beijo ao Paulo do excelente Valquírias, à Euterpe-minha-mana-muito-mais-nova que de repente nasceu…, Goldluc do Broto…tanto ainda por paartilhar!…ao Vítor do Ser Cristão, à T. dos Dias Que Voam…, à bem disposta Mad do Juro que tenho mais que fazer, à Maria do Só-Maria, saúdo-vos!

Saúdo as pessoas que se associaram para participar na Nova Águia! Que tenha frutos o diálogo, e uma Nova Árvore de acção, e apoio, aos projectos mais cruciais, neste tempo de extrema urgência.

Com os melhores votos para todos vós, e aos que subiram aqui, a esta nau em travessia, e que têm a santa paciência de ler os meus diários, ou de me encorajar, n’A Ilha, ou outros sítios; com os melhores votos para Portugal. Desejo-vos e -nos, grandes progressos na longa viajem rumo à Ilha dos Amores. Ou a Casa. Ou a vós Próprios. Ou ao Consolador. Que saibamos encontrar, descobrir e redefinir os nossos objectivos e Destino.

 

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa ??

 

PS – Muito sinceramente, eu, depois de publicar, até estou a duvidar bastante da autenticidade desta frase atribuída a Pessoa! O contraste com um outro texto totalmente falso a ele atribuído, e a verdade desta frase, entusiasmou-me…

… para a frase ter alguma verdade, é necessário considerarmos as roupas mesmo como metáfora. É que a mudança do ”hábito” é muitas vezes a forma de se ficar igual por de baixo das roupas. As roupas não só precisam ser mudadas, como…. despidas….

 

* Cujas ligações não consegui encontrar – os enlaces permanentes que me foram feitos, desapareceram… 😦 do meu blogue, do Google ou outros motores de busca. Não no technorati, no entanto.

 

Mensagem de Natal 2

fresco02.jpgmaravilhoso fresco de umas catacumbas romanas


O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.

Mas isso (tristes de nós, que trazemos a alma vestida!),

Isso exige um estudo profundo,

Uma aprendizagem de desaprender.

Alberto Caeiro,
num dos meus poemas de eleição,
que me acompanhou desde miúda,
por estas palavras para mim essenciais,
parte de O Guardador de Rebanhos



E mais, é esta mensagem, que aqui repito:

do evangelho de S. Tomás ou S. Tomé

(minha tradução da edição em inglês de James Robinson)


22 – Jesus viu bébés a serem amamentadas; disse aos seus discípulos:

– Estas criancinhas a mamar são como aqueles que entram no reino.


(O resto, por traduzir):

(37)  His disciples said, “When will you become revealed to us and when shall we see you?”
Jesus said,

“When you disrobe without being ashamed and take up your garments and place them under your feet like little children and tread on them, then will you see the son of the living one, and you will not be afraid”

.

.

Dos músculos da poesia que exsudam até à morte o néctar da esperança…

Ó vós, homens sem sol, que vos dizeis os Puros
E em cujos olhos queima um lento fogo frio
Vós de nervos de nylon e de músculos duros
Capazes de não rir durante anos a fio.

Ó vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos
Corre um sangue incolor, da cor alva dos lírios
Vós que almejais na carne o estigma dos martírios
E desejais ser fuzilados sem o lenço.

Ó vós, homens ilumidados a néon
Seres extraordinariamente rarefeitos
Vós que vos bem amais e vos julgais perfeitos
E vos ciliciais à idéia do que é bom.

Ó vós, a quem os bons amam chamar de os Puros
E vos julgais os portadores da verdade
Quando nada mais sois, à luz da realidade,
Que os súcubos dos sentimentos mais escuros.

Ó vós que só viveis nos vórtices da morte
E vos enclausurais no instinto que vos ceva
Vós que vedes na luz o antônimo da treva
E acreditais que o amor é o túmulo do forte.

Ó vós que pedis pouco à vida que dá muito
E erigis a esperança em bandeira aguerrida
Sem saber que a esperança é um simples dom da vida
E tanto mais porque é um dom público e gratuito.

Ó vós que vos negais à escuridão dos bares
Onde o homem que ama oculta o seu segredo
Vós que viveis a mastigar os maxilares
E temeis a mulher e a noite, e dormis cedo.

Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos
Que tudo equacionais em termos de conflito
E não sabeis pedir sem ter recurso ao grito
E não sabeis vencer se não houver vencidos.

Ó vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres
Que vos dão Deus de graça em troca de alguns restos
E maiusculizais os sentimentos nobres
E gostais de dizer que sois homens honestos.

Ó vós, falsos Catões, chichibéus de mulheres
Que só articulais para emitir conceitos
E pensais que o credor tem todos os direitos
E o pobre devedor tem todos os deveres.

Ó vós que desprezais a mulher e o poeta
Em nome de vossa vã sabedoria
Vós que tudo comeis mas viveis de dieta
E achais que o homem alheio é a melhor iguaria.

Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra
Falsos chimangos, calabares, sinecuros
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra…
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros.

José Adelino Maltez, Sobre o Tempo que Passa

Eu, a Poesia e os Lusíadas

Apesar de já nessa altura, ser uma apaioxanada pela poesia,  não gostei dos poucos Lusíadas que estudamos na escola. Sentia uma aversão íntima e expontânea (nada que me fosse ensinado)  à maneira como os indígenas eram referidos, no seu total.

Em segundo lugar, também não gostava do poema ”construído” à força. Das voltas completamente visíveis à frase e ao verso, para encaixar num efeito pretendido, exterior à ideia ou sentimento.  Detestava praticamente toda a poesia em rima! Achava-a retorcida, forçada, falsa. Um fingimento. E eu não acreditava que o poeta fosse um fingidor…
Apesar de desde os 13 a poesia ser a minha maior companhia, só muito tardiamente me interessei pela poesia rimada….

Tenho bastante admiração e curiosidade por pessoas que tiveram um trajecto diferente.

2 poemas sobre A Magna Língua Portuguesa

A nossa Magna lingua portugueza

A nossa magna lingua portugueza
De nobres sons é um thesouro.
Seccou o poente, murcha a luz represa.
Já o horizonte não é oiro: é ouro.
Negrou? Mas das altas syllabas os mastros
Contra o ceu vistos nossa voz affoite.
O claustro negro ceu alva azul de astros,
Já não é noute: é noite.

Fernando Pessoa, 26-8-1930

Acho graça às pessoas que pegam logo no exemplo de Pessoa, pensando assim provar que também ele resistia a mudanças que todos nós hoje em dia achamos bem. Mas quem diz?

Estou curiosa em saber as diferenças que havia entre f e ph. E, se dantes se escrevia oiro, em vez de ouro, pois o meu sentir da língua o aprova. Esse meu sentir, é igual ao que Pessoa descreve no seu poema acima.

E se da negra noute, como noite, gosto mais
É porque ela é repleta de luz, esse oiro, e coisas tais…

A Língua Portuguesa

Esta língua que eu amo
Com seu bárbaro lanho
Seu mel
Seu helénico sal
E azeitona
Esta limpidez
Que se nimba
De surda
Quanta vez
Esta maravilha
Assassinadíssima
Por quase todos os que a falam
Este requebro
Esta ânfora
Cantante
Esta máscula espada
Graciosíssima
Capaz de brandir os caminhos todos
De todos os ares
De todas as danças
Esta voz
Esta língua
Soberba
Capaz de todas as cores
Todos os riscos
De expressão
(E ganha sempre à partida)
Esta língua portuguesa
Capaz de tudo
Como uma mulher realmente
Apaixonada
Esta língua
É minha Índia constante
Minha núpcia ininterrupta
Meu amor para sempre
Minha libertinagem
Minha etena
Virgindade.

Alberto de Lacerda

in Oferenda I, Lisboa, IN-CM, 1984 — 04/11/2007

Apontamentos sobre Tétis, Os Lusíadas X

Os Lusíadas – Canto X

75 ….

Tétis, de graça ornada e gravidade,
Pera que com mais alta glória dobre
As festas deste alegre e claro dia,
Pera o felice Gama assi dizia:

76

– “Faz-te mercê, barão, a Sapiência
Suprema
de, cos olhos corporais,
Veres o que não pode a vã ciência
Dos errados e míseros mortais.
Sigue-me firme e forte, com prudência,
Por este monte espesso, tu cos mais.

Assi lhe diz e o guia por um mato
Árduo, difícil, duro a humano trato.
77

Não andam muito que no erguido cume
Se acharam, onde um campo se esmaltava
De esmeraldas, rubis, tais que presume
A vista que divino chão pisava.
Aqui um globo vêm no ar, que o lume
Claríssimo por ele penetrava,
De modo que o seu centro está evidente,
Como a sua superfícia, claramente.

78

Qual a matéria seja não se enxerga,
Mas enxerga-se bem que está composto
De vários orbes, que a Divina verga
Compôs, e um centro a todos só tem posto.
Volvendo, ora se abaxe, agora se erga,
Nunca s’ergue ou se abaxa, e um mesmo rosto
Por toda a parte tem; e em toda a parte
Começa e acaba, enfim, por divina arte,

79

Uniforme, perfeito, em si sustido,
Qual, enfim, o Arquetipo que o criou.
Vendo o Gama este globo, comovido
De espanto e de desejo ali ficou.
Diz-lhe a Deusa: — “O transunto, reduzido
Em pequeno volume, aqui te dou
Do Mundo aos olhos teus, pera que vejas
Por onde vás e irás e o que desejas.

80

“Vês aqui a grande máquina do Mundo,
Etérea e elemental, que fabricada
Assi foi do Saber, alto e profundo,
Que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo e sua superfícia tão limada,
É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende,
Que a tanto o engenho humano não se estende.

http://www.tabacaria.com.pt/lusiadas/m%E1quina.htm

García Lorca – Canção Outonal

Canção Outonal

HOJE sinto no coração
um vago tremor de estrelas,
mas minha senda se perde
na alma da névoa.
A luz me quebra as asas
e a dor de minha tristeza
vai molhando as recordações
na fonte da idéia.

…..Todas as rosas são brancas,
tão brancas como minha pena,
e não são as rosas brancas
porque nevou sobre elas.
Antes tiveram o íris.
Também sobre a alma neva.
A neve da alma tem
copos de beijos e cenas
que se fundiram na sombra
ou na luz de quem as pensa.

…..A neve cai das rodas,
mas a da alma fica,
e a garra dos anos
faz um sudário com elas.

…..Desfazer-se-á a neve
quando a morte nos levar?
Ou depois haverá outra neve
e outras rosas mais perfeitas?
Haverá paz entre nós
como Cristo nos ensina?
Ou nunca será possível
a solução do problema?

…..E se o amor nos engana?
Quem a vida nos alenta
se o crepúsculo nos funde
na verdadeira ciência
do Bem que quiçá não exista,
e do mal que palpita perto?

…..Se a esperança se apaga
e a Babel começa,
que tocha iluminará
os caminhos na Terra?

…..Se o azul é um sonho
que será da inocência?
Que será do coração
se o Amor não tem flechas?

…..Se a morte é a morte,
que será dos poetas
e das coisas adormecidas
que já ninguém delas se recorda?
Oh! sol das esperanças!
Água clara! Lua nova!
Corações dos meninos!
Almas rudes das pedras!
Hoje sinto no coração
um vago tremor de estrelas
e todas as coisas são
tão brancas como minha pena.

García Lorca – Poemas de Andaluzas

Statua di Federico Garc�a Lorca a Madrid. Scultura realizzata da Julio López Hernández

Statua di Federico García Lorca a Madrid. Scultura realizzata da Julio López Hernández

 

Poemas de Andaluzas

Adelina de passeio
O mar não tem laranjas,
nem Sevilha tem amor.
Morena, que luz de fogo.
Empresta-me teu guarda-sol.
…..Ficarei com a cara verde
— sumo de lima e limão —,
tuas palavras — peixinhos —
nadarão em redor.
…..O mar não tem laranjas.
Ai, amor.
Nem Sevilha tem amor!
Tarde
(Estava a minha Lúcia
com os pés no arroio?)
TRÊS alámos imensos
e uma estrela.
…..O silêncio mordido
pelas rãs se assemelha
a uma gaze pintada
com pintinhas verdes.
…..No rio,
uma árvore seca
floresceu em círculos
concêntricos.
…..E sonhei sobre as águas
com a moreninha de Granada.
É verdade
AI, quanto trabalho me dá
querer-te como eu quero!
…..Por teu amor me dói o ar,
o coração
e o chapéu.
…..Quem compraria de mim
este cinteiro que tenho
e esta tristeza de fio
branco, para fazer lenços?
…..Ai, quanto trabalho me dá
querer-te como eu quero!
[Arvoré arvoré]
ARVORÉ arvoré
seca e verdé.
…..A menina de belo rosto
está colhendo azeitona.
O vento, galã de torres,
prende-a pela cintura.
Passam quatro ginetes,
em éguas andaluzas,
com trajes de azul e verde,
com longas capas escuras.
“Vem a Granada, menina.”
A menina não os escuta.
Passam três toureirinhos
de cintura fina,
com trajes cor de laranja
e espada de prata antiga.
“Vem a Sevilha, menina.”
A menina não os escuta.
Quando a tarde ficou
morada, com luz difusa,
passou um jovem que levava
rosa e mirtos de lua.
“Vem a Granada, menina.”
E a menina não o escuta.
A menina do belo rosto
continua colhendo azeitona,
com o braço gris do vento
cingido pela cintura.
…..Arvoré arvoré
seca e verdé.
Tradução de William Agel de Mello


 

Starry Night – van Gogh, Al Berto, e Canção

Não sabia que ”Starry, Starry Night” era uma homenagem a Vin

cent, vale a pena ver: Vincent (Starry Starry Night) – Don McLean 04:26

https://i0.wp.com/upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/69/VanGogh-starry_night_edit.jpg

Vincent van Gogh. (1853-1890). The Starry Night. Saint Rémy, June 1889. Oil on canvas, (73.7 x 92.1 cm).

__________________________________________________

Poema de Al Berto

ÚLTIMA CARTA DE VAN GOGH A THEO

nunca me preocupei em reproduzir exactamente
aquilo que vejo e observo

a cor serve para me exprimir théo: amarelo
terra azul corvo lilás sol branco pomar vermelho
arles
sulfurosas cores cintilanddo sob o mistério
das estrelas na profunda noite afundadas onde
me alimento de café absinto tabaco visões e
um pedaço de pão théo
que o padeiro teve a bondade de fiar

o mistral sopra mesmo quando não sopra
os pomares estão em flor
o mistral torna-se róseo nas copas das ameixeiras
arles continuou a arder quando tentei matar aquele
que viu a minha paleta tornar-se límpida
mas acabei por desferir um golpe contra mim mesmo
théo
cortei-me uma orelha e o mistral sopra agora
só de um lado do meu corpo os pomares estão em flor
e arles théo continua a arder sob a orelha cortada

por fim théo
em auvers voltei a cara para o sol
apontando o revólver ao peito senti o corpo
como um torrão de lama em fogo regressar ao início
num movimento de incendiado girassol

Al Berto, O Medo

__________________________________________________________

Carta de van Gogh-Julho 1880-carta 133

You should know that it is the same with evangelists as it is with artists. There is an old academic school, often odious and tyrannical, the `abomination of desolation’, in short, men who dress, as it were, in a suit of steel armour, a cuirass, of prejudice and convention. When they are in charge, it is they who hand out the jobs and try, with much red tape, to keep them for their proteges and to exclude the man with an open mind.

Their God is like the God of Shakespeare’s drunken Falstaff, “the inside of a church.” Indeed, by a strange coincidence, some evangelical (???) gentlemen have the same view of matters spiritual as that drunkard (which might surprise them somewhat were they capable of human emotion). But there is little fear that their blindness will ever turn into insight.

This is a bad state of affairs for anyone who differs from them and protests with heart and soul and all the indignation he can muster. For my part, I hold those academicians who are not like these academicians in high esteem, but the decent ones are thinner on the ground than you might think.

Now, one of the reasons why I have no regular job, and why I have not had a regular job for years, is quite simply that my ideas differ from those of the gentlemen who hand out the jobs to individuals who think as they do.

In the same way I think that everything that is really good and beautiful, the inner, moral, spiritual and sublime beauty in men and their works, comes from God, and everything that is bad and evil in the works of men and in men is not from God, and God does not approve of it.

But I cannot help thinking that the best way of knowing God is to love many things. Love this friend, this person, this thing, whatever you like, and you will be on the right road to understanding Him better, that is what I keep telling myself. But you must love with a sublime, genuine, profound sympathy, with devotion, with intelligence, and you must try all the time to understand Him more, better and yet more. That will lead to God, that will lead to an unshakeable faith.

LER A CARTA completa, Read the whole letter

seguida de uma espécie de tradução numa espécie de tentativa de português, com os desenhos que Vicente juntou à carta.

A maioria das cartas foram escritas em francês! O que também diz muito sobre Van Gogh.

* Fiz uma correção grande neste postal, retirando o que se referia aos excertos de duas carta, que eu citara de duas sites. Fui em busca da referida ”carta de 19 de Junho de 1988”, e não a encontrei.. O mesmo para a ”carta de Theo de Fevereiro de 1989”. Poderá dar-se o caso do sítio das cartas de van Gogh não estar completo, mas até eu ver essas cartas, tudo indica que sejam uma falsa mistela. Deixo aqui o registo dos, em toda a probabilidade, falsos textos.

A carta de Vincent – esta sim: é como está num sítio dedicado às suas cartas, que parece ser de confiança. Já agora… até comparava com o meu livro, mas esse está fora do meu alcance.

Ultimatum


Maria Bethânia – Ultimatum

No Teatro Guaira em Curitiba. Dia 17/03/2007Maria Bethania declama Ultimatum, Álvaro de Campos 1917.

O Sobreiro

 

O Sobreiro

https://i0.wp.com/www.uc.pt/artes/6spp/imagens/d.carlos_sobreiro1.jpg

Carlos de Bragança (Rei de Portugal), 1863-1908
1905, pastel sobre cartão
177 x 91 cm
Palácio Ducal – Fund. da Casa de Bragança

Vila Viçosa, Portugal

 

 

ÁRVORES DO ALENTEJO

 

Horas mortas… curvadas aos pés do Monte
A planície é um brasido… e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol postonte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
– Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água! !

Florbela Espanca (Sonetos)

(in Charneca em Flor)

 

A UMA ÁRVORE

Árvore
Quando eu morrer hás-de ficar.
Hás-de ver o passar doutras Estações.
Hás-de ouvir as canções
De uns outros ninhos, noutras Primaveras.
Junto de ti, meu filho há-de sonhar
Minhas antigas, fúlgidas quimeras.

Árvore
Quando eu morrer, hás-de falar
De mim, que te plantei.
E, em cada ramo novo que brotar,
Serás um gesto meu a perdurar:

– Por ti, não morrerei …

 

Francisco Bugalho (1998). Poesia. 2ª edição. Editora LG, Lisboa.

Site no WordPress.com.

EM CIMA ↑