Poema de Ary, que aqui nesta entrada dedico à memória e em honra de grandes mulheres que, dedicadas a causas maiores para a humanidade, sofreram ignóbilmente na solidão e na obscuridade, como Camille Claudel e Meliva Maric, recebendo, em resposta ao cuidado e dedicação, ao amor e carinho, à grandeza de espírito e ao árduo trabalho – nem reconhecimento, nem uma mão amiga, nem subsistência, nem às vezes, sequer um lar.

Este o poema de amor e gratidão que elas mereciam ter ouvido de seus amantes, de seus maridos …

Quem concorda comigo? E não é grande e belo este poema?
***

Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.

Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.

Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.

em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.

Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.

Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.

Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.

José Carlos Ary dos Santos

Women Running on Beach - Pablo Picasso

Pablo Picasso. Mulheres Correndo na Praia. 1922. Oleó sobre madeira. Museu Picasso, Paris, França